Deus estava às voltas com a tarefa de construir um exemplar humano do sexo feminino e de um modelo denominado “Mulher de Militar”.
Estava já com uns seis dias de atraso com relação à data de entrega do pedido, quando a Ele se apresentou um anjo e Lhe disse: – Senhor, parece que tens muitos problemas para terminar este protótipo. Por que não o fabricas seguindo os planos normais dos demais modelos?
Deus lhe respondeu:
– Por acaso não viste as especificações deste modelo? Tem que funcionar perfeitamente ainda que esteja sozinha, pelo tempo que for necessário, portanto, deve saber desempenhar as responsabilidades de mãe e de pai; ser uma perfeita anfitriã para quatro ou quarenta pessoas com apenas uma hora de aviso; conformar-se com muito pouco; resolver sem um manual que lhe sirva de guia, qualquer emergência que se apresente; ser capaz de manter-se alegre e com excelente ânimo ainda que estando enferma ou com náuseas durante uma gravidez; e deva ser capaz de mudar-se a diferentes cidades em pouco tempo, sem que isso esteja no planejamento. Ah, já ia me esquecendo… deve ter seis pares de mãos.
O Anjo balançou a cabeça de lado a outro e disse:
- Seis pares de mãos, impossível, Tu és Todo Poderoso, podes fazê-lo, mas não ficaria estético!
Deus Lhe respondeu:
-Tens razão, não seria bem vista. Mas não te preocupes. Para compensar criarei muitas outras mulheres de militares para que se ajudem mutuamente quando da ausência de seus parceiros. Além disso, lhe colocarei um coração excepcionalmente forte para que possa encher-se de orgulho com as conquistas de seu companheiro; agüentar a aflição das separações prolongadas; palpitar compassadamente ainda que esteja cansado por excesso de trabalho; e ser suficientemente grande para que lhe faça dizer “compreendo” quando não compreende, ou “eu te amo” quando em um desentendimento.
- Senhor, disse o Anjo, tocando-lhe suavemente o braço, estás muito cansado, por que não Te deitas e descansas um pouco? Amanhã poderás terminar este projeto?
- Agora não posso parar, disse Deus. Estou a ponto de criar algo que será único em sua classe. Já consegui fazer com que este modelo de mulher possa curar-se a si mesma quando estiver enferma, atender a seus hóspedes inesperados de fim de semana, dizer dignamente adeus àqueles que ama, quer esteja em um pátio de quartel, em um cais ou em uma pista de base aérea, e entender o quanto é importante que eles partam nessa missão.
O Anjo então, voou em redor do protótipo de uma mulher de militar, observando-o atentamente. Como um gesto de desesperança levantou os olhos e após longo suspiro disse:
– Me parece bem, mas… um tanto frágil, não?
Por último, o Anjo se inclinou até a criatura e passando o dedo em sua face notou-a úmida.
- Há um escape de fluido – disse. Ou foi mal desenhada, ou há algo errado na construção. Eu não me surpreendo que tenha rachado, Tu colocaste muitos ingredientes dentro deste protótipo.
O senhor franziu o rosto, sensibilizado pela falta de confiança do Anjo e disse-lhe:
– O que estás vendo não é escape de fluído, é uma lágrima.
- Uma lágrima? O que é uma lágrima? Para que serve uma lágrima?, perguntou o Anjo.
Deus lhe respondeu:
– Serve tanto para os momentos de alegria como para os de tristeza, os de orgulho e os de vergonha, os de satisfação e os de frustração. E, além disso, a lágrima é uma demonstração visível dos valores morais e cívicos que a mulher de militar e seu companheiro defendem.
- Senhor, creio que a lágrima é realmente um acessório excepcional, o mais versátil de todos os que até agora colocastes neste ser. Vós sois realmente genial, exclamou o Anjo.
E Deus, com fisionomia de espanto, contestou.
- Mas não fui eu quem colocou esta lágrima aí…
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